segunda-feira, 14 de maio de 2018

2014 Jaguar XFR-S 5.0 V8 AT8; tradição acima de tudo

Texto: Yuri Ravitz
Fotos: Jeferson Félix
Modelo cedido pela Costallat Automobile




Existem inúmeras culturas distintas ao redor do planeta, cada uma com seu jeito próprio de entender o mundo e fazer as coisas. Do mesmo modo, cada povo é reconhecido por se destacar positiva ou negativamente de alguma forma, seja lá qual for o motivo. Os britânicos, por exemplo, são mais conhecidos por sua tradicional e quase sempre debochada postura aristocrata, o que lhes confere um certo charme e pode até fazer parecer que não sabem se divertir... Mas eles sabem, e muito bem.

Ao ouvir o nome Jaguar, o tipo de lembrança que lhe vier vai depender da época em que nasceu: se foi nos anos 90, é certo que lembrará do XJ220, aquele supercarro que durou pouquíssimo (foi fabricado entre 1992 e 1994) e literalmente causou na época por muitos fatores, mas isso fica para outro post. Se tiver nascido depois dos anos 2000, fatalmente associará o nome Jaguar a algum sedan de luxo com cara de "carro de coroa" e nenhuma característica empolgante, e é exatamente pra quebrar essa ideia que a fabricante desenvolveu carros como o XFR-S.



Quando a Jaguar quer fazer um carro bacana e rápido, adota a letra S em seu nome original. Quando ela quer fazer um carro bacana, rápido e brutal, opta pela letra R; o resultado com a combinação das letras R e S não poderia ser outro. O XF é um sedan intermediário no portfólio da marca, posicionado acima do XE e abaixo do XJ, dedicado a enfrentar nomes de peso como Mercedes-Benz Classe E, BMW Série 5 e Audi A6 e quem já teve ou andou em um, sabe que apesar de sua simplicidade, ele tem perfeitas condições de competir de igual pra igual com o trio alemão. 

Acontece que os germânicos tem suas versões de desempenho extremo, e a Jaguar tinha "apenas" o XFR que era bom, mas não tinha o mesmo carisma e agressividade dos outros. Foi assim que nasceu, em 2012, o XFR-S seguindo a mesma receitas dos adversários, mas com características que fazem dele um supercarro único e marcante.



Emoção baseada na razão

O XFR-S de nossa avaliação da vez foi cedido pela Costallat Automobile, nossa parceira oficial, e é um dos seis que existem atualmente no Brasil, sendo um de quatro azuis, outro cinza e mais um preto; seu preço atual oscila entre R$400.000 e R$500.000. Por falar em azul, a tonalidade de nome French Racing Blue e o grande aerofólio na traseira (opcional) a la Lancer Evolution o fazem parecer recém-saído de uma loja de customização, mas acredite: é tudo original e feito pela própria Jaguar.

Apesar de forte e bonito, o XFR ainda traz um visual muito sisudo. Já o XFR-S é escandaloso, mas tem bons motivos pra isso: o bodykit exclusivo traz grandes admissões de ar na dianteira, extratores de ar no para-choque traseiro e aerofólio funcional no porta-malas, tudo decorado com detalhes em fibra de carbono e com o objetivo de melhorar tanto o arrefecimento quanto a aerodinâmica do sedan. As rodas de aro 20 e seis raios são calçadas por pneus Pirelli P-Zero de medidas 265/35 na dianteira e 295/30 na traseira. Ou seja: todo esse "carnaval" de detalhes exagerados têm um real propósito bem mais nobre que o de atrair olhares.



Atleta do mais alto nível

Um carro de alto desempenho não é nada sem um conjunto motriz adequado. Debaixo do capô de alumínio com discretas admissões de ar, há um 5.0 V8 sobrealimentado por compressor (supercharger) que gera saudáveis 550cv a 6.500rpm e 63,7kgfm de torque a 2.500rpm, números transmitidos para as rodas traseiras por um câmbio automático de oito velocidades que permite trocas pelos paddle shifters no volante. É a mesma dupla de motor e caixa presente no irmão F-Type R AWD e no primo Range Rover Sport SVR mas, desse trio de britânicos enfurecidos, o XFR-S é o único que conta com tração traseira. Há ainda o coupé XKR-S que partilha do mesmo motor e também é RWD, mas usa câmbio automático de seis marchas.

Para manter toda essa força sob controle, há freios com discos de aproximadamente 15 polegadas (14,9" na dianteira, 14,8" na traseira), suspensão mais rígida em relação ao XFR com amortecedores de carga variável e mais uma série de alterações mecânicas que ajudam o Jag a não sair da linha, mesmo quando levado ao limite. O motorista pode escolher como quer dirigir através de botões no console central, que alteram o comportamento do carro.



Respeito às origens

Se você tiver dúvidas de que o XFR-S se trata de um legítimo carro inglês, tanto pro bem quanto pro mal, basta abrir a porta e escolher um dos assentos. O interior trata bem quatro ocupantes com assentos confortáveis (decorados por detalhes em azul e tecido com desenho que lembra fibra de carbono), muitos detalhes em alumínio, fibra de carbono legítima, couro e outros mimos que um carro desse preço pede. Por outro lado, a sobriedade do ambiente não combina com a ousadia exterior; alguns podem esperar uma cabine mais "empolgante", enquanto outros podem simplesmente deixar isso de lado em vista do bom acabamento. Tudo vai da sua personalidade.

O fato é que, como dissemos acima, o XFR-S é baseado em um sedan de luxo, portanto, é isso que ele precisa oferecer ao seu comprador. Dentre a boa lista de equipamentos, destacamos os bancos dianteiros elétricos, faróis bi-xenon com luzes diurnas (DRL) e de conversão estática em LEDs, volante multifuncional com aquecimento, ar condicionado de duas zonas com difusores traseiros, multimídia completa com GPS, coluna de direção com ajustes elétricos, sistema de som Meridian de 825w (opcional) e 18 alto-falantes (incluindo um subwoofer), entre outros. Não há nenhuma grande revolução tecnológica, mas também não permite ao motorista sentir grandes faltas.



Parece, mas não é

Para dar vida ao monstro britânico, basta pisar no pedal do freio e apertar o botão de partida no console central, localizado logo à frente do seletor giratório do câmbio e que conta com um efeito interessante de iluminação vermelha que "pulsa" no mesmo ritmo das batidas de um coração. O V8 acorda com um rugido intimidador (não tão grave quanto os AMG, mas mais brutal que os Motorsport), enquanto o volante se ajusta eletronicamente na última posição deixada e os difusores de ar condicionado se abrem girando para cima; basta colocar o câmbio em D e dirigir, quase se sentindo em um XF comum se não fossem os detalhes azuis do painel. O isolamento acústico é primoroso mas, mesmo de fora, o R-S só chama atenção pelos elementos visuais, pois pouco se ouve de sua movimentação.

Apesar de tudo, provocá-lo é muito fácil: basta pisar fundo, colocar o câmbio em S ou apertar o botão da bandeira quadriculada no console, ativando o modo Dynamic. Uma marcha menor entra rapidamente e o XFR-S avança com uma firmeza digna de veículos com tração integral, sem perder tração ou sair de traseira. Esse "autocontrole" do Jag só é tão impressionante quanto sua capacidade de frenagem; os discos de quase 15 polegadas atuam como âncoras, parando totalmente o sedan de quase duas toneladas (1987kg) em apenas 35 metros vindo a 100km/h. Em suma: diferente de outros carros que já passaram pelo Volta Rápida, o XFR-S é um RWD que tem todo o jeito de um legítimo AWD.



Vale a pena?

O XFR-S não é pra qualquer um, e ressaltamos isso porque, pelo preço médio que é pedido por ele, o comprador pode fazer inúmeras escolhas mais atraentes em outros fatores isolados, seja em matéria de desempenho, de luxo, de visual, entre outros. O grande trunfo desse Jag no Brasil é equilibrar todos esses pontos, sem pesar mais pra um e desfalcar o outro, e tudo temperado pela exclusividade: comprar um XFR-S por aqui é ter a certeza de que não vai ver um carro igual ao seu parado no semáforo e, para os mais abastados, isso muitas vezes é o mais importante.

Se você gostou do texto, confira também nosso vídeo completo com ele diretamente no YouTube através do link abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=i-E3n8gf2UU

Ficha técnica


Motor: 5.0, 8 cilindros em V, 32 válvulas, supercharged
Potência: 550cv a 6.500rpm
Torque: 63,7kgfm a 2.500rpm
Transmissão: automática de oito marchas
Tração: traseira
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: discos ventilados nas quatro rodas
Direção: hidráulica
Pneus: 265/35 R20 na dianteira, 295/30 R20 na traseira
Comprimento: 4,96m
Largura: 1,87m
Entre-eixos: 2,90m
Altura: 1,46m
Peso: 1.987kg
Porta-malas: 500l
Tanque: 70l
0 a 100km/h: 4,6 segundos
Velocidade máxima: 300km/h

Fotos (clique para ampliar):