quarta-feira, 13 de setembro de 2017

2017 Renault Captur Intense 2.0 AT4: tentativa de reconciliação

Texto: Yuri Ravitz
Fotos: Yuri Ravitz/Divulgação Renault
Modelo cedido pela Renault do Brasil


Captur apresenta design tipicamente europeu e atrai olhares por onde passa. Foto: Yuri Ravitz

Se uma montadora de automóveis deseja sobreviver nos dias atuais, ela precisa ter ao menos um "altinho" em sua gama de veículos. Seja um hatch travestido de aventureiro ou um crossover sem a menor aptidão para trechos fora-de-estrada (mas que pareça capaz), esse tipo de produto se tornou tão indispensável que determinadas marcas passaram a comercializar mais de um veículo desse mesmo tipo, porém de portes e preços diferentes a fim de alcançar públicos mais distintos economicamente.

A Renault embarcou nessa onda com o Duster, modelo de baixo custo destinado a mercados emergentes e vendido em alguns países sob a marca Dacia, braço mais acessível da francesa que também é responsável pelos conhecidos Sandero e Logan. O Duster agradou por ser um veículo simples e robusto, porém, a concorrência se sofisticou e a montadora não quis ficar de fora; foi aí que começou a vida do Captur, um crossover compacto desenvolvido sobre a plataforma do Clio de 4ª geração (que nunca foi vendido aqui) e que tem uma versão maior e mais "bruta" sobre a plataforma do Duster para o mercado russo, chamada de Kaptur. Nosso Captur (com C) é o mesmo Kaptur russo, o que significa que recebemos o modelo maior que divide sua base com o irmão "pobre". A versão aqui avaliada  por nós é a Intense, top de linha que sai por R$94.990.

Maior altura em relação ao solo e linha de cintura crescente reforçam a ideia de robustez. Foto: Yuri Ravitz

Visual

O Captur quer "fazer as pazes" com os consumidores que tem na Renault uma referência em ousadia e modernidade em suas linhas, e que torceram o nariz para o design excessivamente quadrado do trio oriundo da Dacia que é vendido aqui há anos. Com linhas belas e suaves, o Captur consegue atrair olhares por onde passa e desperta curiosidade nas ruas. Os elementos em LEDs na dianteira (luzes diurnas e faróis de neblina) e na traseira (luzes de posição) se combinam ao teto em cor diferenciada e às rodas diamantadas de 17 polegadas para trazer uma combinação atual, alinhada com o que a concorrência oferece e sem exageros. O exemplar da nossa avaliação traz a cor Branco Glacier com teto preto, dentre 13 opções diversas segundo a Renault.

As luzes diurnas (DRL) em formato de C são de LEDs e combinam com os faróis de neblina também em LEDs.
Foto: Yuri Ravitz

Mecânica

Por usar a plataforma do Duster, o Captur também usa o mesmo conjunto mecânico do irmão romeno. Debaixo do capô se esconde o conhecido 2.0 aspirado de quatro cilindros em linha com 16 válvulas, gerando até 148cv (etanol) e 20,9kgfm de torque (etanol) comandados por um câmbio automático de quatro marchas que permite trocas manuais na própria alavanca, e joga a força unicamente para as rodas dianteiras (não há 4x4 nem como opcional). A dupla de motor e câmbio é apenas boa, pois a ausência de mais marchas compromete a desenvoltura e a economia do crossover; em contrapartida, o modelo roda de forma suave na maior parte do tempo e não deixa na mão quando exigido, sob pena de jogar o giro do motor nas alturas quando é necessário pisar fundo, comprometendo o silêncio ao rodar. O sistema de direção eletro-hidráulica garante uma direção firme e segura sem ser excessivamente leve. 

A suspensão independente na dianteira e rígida na traseira (eixo de torção) absorve as imperfeições do asfalto com bastante eficiência, além de manter o Captur firme nas curvas - o que também é mérito dos controles eletrônicos de tração e estabilidade. Ponto negativo para os freios a tambor na traseira, uma economia imperdoável em um carro que beira os 100 mil reais.

Interior é simples, mas funcional. A presença dos mesmos elementos de carros mais baratos (multimídia, volante e comandos do ar condicionado) incomoda, mas é prática recorrente nas montadoras. Foto: Divulgação Renault

Tecnologia

O Captur escancara modernidade quando é visto por fora, mas traz uma lista de equipamentos que apesar de satisfatória, não incorpora a mesma ousadia do design. O francês vem de série com vidros elétricos com função um-toque pra subir e descer em todas as janelas, travas elétricas, retrovisores com ajuste e rebatimento elétricos, chave do tipo cartão, partida por botão, multimídia com tela sensível ao toque e GPS/Bluetooth/USB/Aux, quatro airbags, ar condicionado com função Auto, piloto automático, limitador de velocidade, luzes diurnas em LEDs, faróis de neblina em LEDs com função de luz de conversão estática (se acendem em curvas de acordo com o movimento do volante), computador de bordo multifuncional com velocímetro digital, cintos de três pontos com encosto de cabeça para os três ocupantes do banco de trás, ISOFIX, controles eletrônicos de tração e estabilidade, regulagem elétrica de altura do facho dos faróis baixos, sensores de ré (com câmera), crepuscular e de chuva. Pelo preço, a Renault poderia incluir alguns itens como faróis principais em xenon ou LED, retrovisor fotocrômico, pelo menos seis airbags e luzes de cortesia nos quebra-sóis.

Por padrão, nossa avaliação incluiu percursos urbanos, rodoviários e até trechos de serra. Aqui, uma pausa no topo da subida que leva a Teresópolis, no Rio de Janeiro. Foto: Yuri Ravitz

Como anda

Já dirigiu um Duster 2.0 com câmbio automático? Caso a resposta seja positiva, não espere encontrar diferenças expressivas no comportamento do Captur (a menos, é claro, nas curvas e trechos mais sinuosos por conta dos controles de segurança ausentes no romeno). Caso contrário, é importante ressaltar que apesar de defasado, o casamento do 2.0 de quatro cilindros com o câmbio automático de quatro marchas garante um comportamento neutro no dia-a-dia com o Captur, suficiente para agradar a quem não quer mais trocar marchas, mas que compromete diretamente o desempenho e o consumo do crossover; durante nossa avaliação que é sempre feita com gasolina, o computador de bordo marcou entre 7 e 9km/l em trecho urbano, subindo para 11 em trecho rodoviário; por vezes o câmbio segura a 3ª marcha de forma desnecessária, o que obriga o motorista a colocar a alavanca em modo manual e avançar para a quarta manualmente a fim de privilegiar a economia. Com o pé leve, o crossover se mantém na faixa dos 2000 giros na maior parte do tempo.

Por dentro, os bancos são densos e muito confortáveis, e o espaço interno é bom para as pernas de todos; quatro adultos viajam com folga e acomodam suas bagagens no porta-malas de 437 litros sem dificuldade. O acabamento geral é bem montado com encaixes precisos e uma bela configuração que mescla couro sintético preto e creme, porém o desenho simples demais e os materiais duros em sua maioria não caíram bem para um modelo do preço do Captur.



Vale a pena?

O Captur é bonito, bem equipado e proporciona uma vida tranquila ao motorista. O conjunto mecânico está longe de ser moderno, mas agrada a quem procura fugir das novidades mecânicas por receio ou simplesmente por gosto pessoal (afinal, existem todos os tipos de gostos). Caso ache que o modelo mereça uma dupla de motor e câmbio mais moderna, parta para a recém-lançada Intense 1.6 X-TRONIC CVT, que se posiciona imediatamente abaixo da Intense 2.0 AT4 e apresenta um desempenho ligeiramente inferior, porém se comporta melhor até mesmo no consumo.

Confira a avaliação completa em vídeo no nosso canal no YouTube: